Produtividade do trabalho no agro cresce mais que média nacional
Pesquisadora do Cepea destaca estudo mostrando que a produtividade do trabalho no agro cresce mais que no Brasil.
O agronegócio brasileiro representa uma parcela relevante do PIB nacional, em média, 24% de 1996 a 2018. Embora essa parcela oscile anualmente – resultado das dinâmicas comparadas dos preços, produtividade e volumes de capital e trabalho empregados entre o setor e o resto da economia –, esta apresentou tendência de redução consistente de 2004 em diante (até 2014).
Tendo em vista o papel fundamental do avanço da produtividade do agronegócio, esse texto trata do comportamento dessa variável entre 2004 a 2015. Especificamente, foi calculada a produtividade do trabalho no agronegócio e seus segmentos.
A evolução da produtividade do trabalho reflete as diferenças entre a evolução real do PIB e do total de horas trabalhadas pelas pessoas ocupadas em cada setor de análise.
O total de horas trabalhadas no agronegócio, entre 2004 e 2015, teve importante redução. O número de pessoas ocupadas (PO) diminuiu 13,3% para o agronegócio (-1,3% a.a.); para os segmentos, houve relativa estabilidade no de insumos, expansão nos agrosserviços (17,4% ou 1,5% a.a.), redução na agroindústria (-3,5% ou -0,3% a.a.) e queda relevante dentro da porteira (-26,4% ou -2,8% a.a.).
No mesmo período, para o Brasil, a PO aumentou 1,1% a.a. Paralelamente à redução da PO, a jornada média de trabalho no agronegócio também caiu, 4,8% no acumulado do período, intensificando a queda no número de horas trabalhadas no agronegócio – variável utilizada para cálculo da produtividade do trabalho.
Como resultado, a produtividade do trabalho no agro cresceu a taxas anuais superiores à brasileira em praticamente todos os anos entre 2004 e 2015 (exceto 2012 e 2014), com alta acumulada superando em 16 p.p. a da produtividade da economia como um todo.
Para o agronegócio, a expansão da produtividade foi de 46,9% (3,5% a.a.), enquanto para o Brasil, de 31% (2,5% a.a.). Entre os segmentos do agronegócio, no primário, a produtividade do trabalho cresceu 122%, equivalente a um aumento anual de 7,2%. A produtividade dos agrosserviços, seguindo o comportamento do segmento de serviços do Brasil, oscilou ao longo do período, se elevando apenas 4% entre 2004 e 2015. Na agroindústria, o avanço no período foi de 21% (inferior à média nacional), tendo a variável ficado estagnada entre 2004 e 2009.
A partir desses resultados, é possível decompor o crescimento médio anual do PIB dos setores analisados em variações da produtividade do trabalho da população ocupada (produtividade PO) e a própria variação da PO; e então, decompor a variação da produtividade da PO em produtividade das horas trabalhadas (produtividade horas) e jornada média de trabalho (adaptado de Barbosa Filho e Pessôa (2014)³). O resultado dessa decomposição está na Tabela 1.
Entre 2004 e 2015, a elevação do PIB do agronegócio foi atribuída ao avanço na produtividade por hora trabalhada no setor, que mais que compensou as reduções na jornada de trabalho e na PO. Como esperado, esse mesmo comportamento é observado na agropecuária, mas de forma ainda mais intensa. Cenário similar também foi verificado no segmento de insumos e na agroindústria, mas com efeito mais modesto da produtividade. Em contraste, para os agrosserviços, o crescimento do PIB seguiu o aumento da PO. No Brasil como um todo, o aumento de produtividade também explica parte relevante do avanço do PIB no período analisado.
Portanto, o avanço da produtividade do trabalho no agro foi elemento determinante para o crescimento do PIB do setor, resultado influenciado sobretudo pela dinâmica da agropecuária.
Em outras palavras, o PIB cresceu de forma expressiva ao mesmo tempo em que reduziu, também significativamente, o contingente de pessoas ocupadas no setor.
Por um lado, esse resultado evidencia o sucesso produtivo de um modelo de produção agropecuária baseado nas inovações, com investimentos em tecnologia e capital humano e uso intensivo de insumos cada vez mais modernos. Esse processo coloca o agronegócio em posição de destaque na economia brasileira, com contribuições relevantes para o PIB e o comércio exterior, e também coloca o Brasil em posição de destaque no cenário mundial.
Por outro, deve-se enfatizar as implicações sociais negativas desse processo, que acaba implicando em intensificação e concentração da produção, com exclusão e inviabilidade de diversos estabelecimentos menores, e substituição rápida de trabalho por capital – com efeitos sobre o mercado de trabalho que devem ser considerados pelos formuladores de política, sobretudo, por afetarem grupos vulneráveis da sociedade.
E por falar em produtividade no agronegócio, clique aqui e saiba mais do perfil do produtor rural brasileiro.
Adaptado de Nicole Rennó Castro
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