Política

Juros menores no Plano Safra: será que resolve?

O governo busca alternativas para lidar com a inflação dos alimentos e a proposta de juros menores no Plano Safra tem sido discutida. Mas será suficiente?

Nos últimos dias, o governo federal finalmente trouxe à mesa uma proposta que pode ter impacto real para o setor agropecuário: juros mais baixos para algumas culturas agrícolas no próximo Plano Safra.

Após semanas debatendo medidas inócuas – como taxação de exportações e corte de tarifas de importação –, o governo parece ter ajustado o foco para um ponto que de fato pode influenciar a produção e os preços dos alimentos. Mas será que essa iniciativa, isoladamente, tem força para resolver a crise de custos e a insegurança enfrentada pelo produtor rural? A resposta, como sempre no agro, depende de um olhar técnico e pragmático.

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Juros menores no Plano safra ajudam, mas apenas para parte do setor

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, afirmou que o governo pretende oferecer taxas mais baixas para culturas como arroz, feijão e hortifrútis, com o objetivo de estimular a produção e reduzir os preços ao consumidor.

De fato, reduzir o custo do crédito para essas cadeias de curto ciclo pode incentivar um aumento da oferta no curto prazo. No entanto, setores que trabalham com ciclos produtivos mais longos – como a pecuária e as lavouras perenes – não se beneficiam diretamente dessa política, pois o impacto dos juros menores seria diluído ao longo do tempo.

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Além disso, para que essa medida tenha efeito, o produtor precisa ter previsibilidade e segurança para investir. E é justamente nesse ponto que o governo continua falhando.

A alta da Selic e a contradição do governo

A proposta de juros menores chega um dia após o Banco Central elevar a taxa Selic para 13,25% ao ano, encarecendo o crédito rural de maneira geral.

Esse movimento pressiona as linhas de financiamento com juros livres e reduz o espaço fiscal para que o governo subsidie crédito rural dentro do Plano Safra. Ou seja, o governo está tentando aliviar o custo do financiamento para alguns setores, mas ao mesmo tempo sua política econômica contribui para encarecer o crédito no agro como um todo.

Esse cenário deixa o produtor em uma posição delicada: mesmo que algumas cadeias possam acessar crédito mais barato, a economia como um todo continua pressionando custos, seja na compra de insumos dolarizados, seja no custo da dívida para agroindústrias e cooperativas.

Seguro Rural e previsibilidade: o que realmente faz diferença

No agro, o acesso ao crédito é apenas uma parte da equação. Investir em um setor de alto risco exige previsibilidade – e é aí que políticas de longo prazo, como o Seguro Rural, ganham ainda mais relevância.

Apesar de ser um mecanismo essencial para proteger o produtor contra eventos climáticos extremos e oscilações de mercado, o Seguro Rural segue subfinanciado e com cobertura limitada. Sem um seguro eficiente, o risco do investimento aumenta, e nem mesmo taxas de juros mais baixas são suficientes para convencer o produtor a expandir sua produção.

A insegurança também se reflete no planejamento logístico e na volatilidade cambial. Se o governo quer realmente reduzir os preços dos alimentos, precisa olhar para o agro de forma ampla, oferecendo crédito sustentável, segurança jurídica e infraestrutura que garanta competitividade ao produtor.

Chega de soluções passageiras

A proposta de juros menores para algumas culturas agrícolas é, sem dúvida, um avanço – especialmente diante das medidas equivocadas cogitadas até aqui. No entanto, ela não resolve o problema estrutural do agro brasileiro.

O produtor rural precisa de um ambiente econômico estável e previsível, com políticas que garantam acesso a crédito sustentável, proteção contra riscos climáticos e uma logística eficiente para escoar a produção.

Sem isso, qualquer tentativa de intervenção pontual será apenas mais uma solução passageira – incapaz de enfrentar os desafios reais do setor.

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Ike Moraes

Especialista em Reputação Digital e Inteligência Política
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