O que o Brasil pode esperar da crise na produção de suínos na China?
Afinal, quais os efeitos esperados para o Brasil diante da crise na produção de suínos na China?
O fato é que a crise na produção de suínos na China vem desde meados de agosto de 2018.
Isso porque desde esse período, a China vem sofrendo com a Peste Suína Africana, doença que devasta a produção do país, e que tem se espalhado de maneira alarmante para os países vizinhos.
Estima-se que mais de 200 milhões de suínos tenham morrido em decorrência da enfermidade. É importante destacar que este país detém metade do rebanho mundial de suínos, além de ser um dos maiores consumidores e importadores de carne suína do cenário mundial.
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Acredita-se que os impactos da enfermidade e a crise na produção de suínos ainda serão sentidos nos próximos 2 a 3 anos, desencadeando um novo rearranjo no mercado global de commodities agrícolas.
Cabe ainda ressaltar o fato de os produtores chineses estarem temerosos em recompor seus plantéis, já que ainda há um vírus mortal circulando.
Se diante de tamanha desgraça pode haver algo benéfico, de certo, podemos citar a maior preocupação e importância com a qual os países produtores necessitam enxergar a biosseguridade: não somente para suínos, mas também para as demais espécies de interesse econômico.
É nítida a proporção devastadora que tomou o surgimento da enfermidade no país asiático, trazendo prejuízos sem precedentes para eles. Além disso, pode-se destacar a oportunidade da crise na produção de suínos na China, com efeitos positivos no crescimento da produção, exportação, bem como a participação no mercado de proteína animal por outros países, como o Brasil.
Mas o que podemos enxergar de oportunidades e desafios para o Brasil com a crise na produção de suínos na China?
É fato que diante da redução da oferta chinesa por carne suína, uma das preocupações é a busca em atender a sua demanda por meio da importação de outros países.
E por falar no mercado de carne suína, confira os dados históricos da exportação de carne suína do Brasil ao longo da última década, de 2009 a 2018. Clique aqui!
Segundo dados do USDA, a China vem aumentando os volumes de importação não somente de carne suína, mas também de outras fontes de proteína animal, como a carne de frango.
Segundo dados do MDIC, o volume de carne de frango exportada no primeiro trimestre para o país foi 12,4% maior do que o mesmo período do ano passado, superando os valores exportados para a Arábia Saudita, antigo maior importador do frango brasileiro. Outro exemplo de fonte de proteína animal bastante procurada seria a carne bovina.
Dados do mesmo Ministério apontam para um crescimento de 16,1% nas importações de carne bovina pelo país no primeiro trimestre de 2019 em comparação com o mesmo período do ano passado (clique aqui).
Segundo o USDA, as importações de carne bovina pela China podem aumentar 15%, sendo que países como Argentina, Uruguai e o próprio Brasil podem aproveitar deste fato, já que em 2018 os três somados representaram 70% de todas as exportações para o país.
No entanto, quem deverá ser mais prontamente beneficiado pela redução dos abates no país asiático, são grandes players nacionais de processamento de proteína animal, que já exportam para o país, segundo Antônio Ianni, suinocultor da Agropecuária Ianni, em Itu, São Paulo, em entrevista para o Estadão. Para aquele empresário, os grandes players detêm estratégias que os permitem sair na frente dos demais. No entanto, o produtor afirma que uma elevação no preço do suíno seria bem-vinda, visto que no ano de 2018 a suinocultura amargou prejuízos.
De fato, os efeitos da crise de produção de suínos já podem ser observados nos preços médios do suíno para o abate que, vêm apresentando consecutivos aumentos, como temos destacado no Farmnews (clique aqui).
Por outro lado, com a crise de produção de suínos, a importação de soja pela China tenderá a reduzir nos próximos períodos.
De acordo com matéria veiculada pela Agência Bloomberg, há uma expectativa de redução da importação de soja pelo país asiático para 85-86 mi t, distantes dos 88 mi t projetados pelo USDA. Ainda, a Abiove projeta uma queda de R$2,1 bi na receita, resultante da exportação de soja para a China neste ano. No entanto, as exportações de soja se mantiveram praticamente estáveis até então.
Até o momento foram exportadas 7,15 milhões de toneladas do produto no primeiro trimestre de 2019, 0,99% maior que o volume exportado no mesmo período do ano passado. Clique aqui e confira os dados de exportação de soja pelo Brasil nos primeiros meses de 2019!
Sabendo que a soja é um ingrediente importante para a produção da dieta dos suínos, e um dos ingredientes de valor mais elevado, é provável que o reflexo da não-exportação seja sentido no custo de produção dos suínos. É o que aponta a Central de Inteligência de Aves e Suínos da Embrapa, que observa quedas consecutivas no custo de produção de suínos (clique aqui).
O que se espera é que se compensem os valores não arrecadados com as exportações de soja pelo aumento do envio de carne para a China, equilibrando a balança das exportações no agronegócio.
Notícias como o possível acordo entre os governos brasileiros e chineses, em abrir mais 78 plantas frigoríficas para as exportações, podem animar o mercado. Aliado a isso, o crescimento das tensões comerciais entre China e EUA, com o aumento das taxações sobre os produtos norte-americanos e vice-versa, acabam por beneficiar ainda mais a situação das exportações brasileiras.
Dessa forma, ações governamentais e privadas que visem captar fatias abertas das importações, ou seja, aumentarem a participação do Brasil no mercado chinês de proteína animal, são de fundamental importância no momento. Assim, o Brasil tem uma grande oportunidade de aumentar as exportações de carne nos próximos anos e se consolidar ainda mais entre os maiores fornecedores mundiais de proteína animal.
Rafael Nacimento é Médico Veterinário, Mestre em Ciência Animal pela USP com enfoque em nutrição de aves e suínos. Atualmente, é Doutorando pela mesma instituição, sendo integrante do Laboratório de Análise Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE).
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