O tarifaço de Trump pode não se consolidar integralmente. Ainda há espaço para negociação, pressões internas nos EUA e reavaliações. Mas o dano simbólico já está feito!
Quem vive no campo, mesmo distante das disputas em Brasília ou Washington, já percebeu: as decisões políticas globais batem direto na porteira. A recente tarifa de 50% anunciada por Donald Trump sobre produtos brasileiros escancarou, de uma vez por todas, que o agro brasileiro deixou de ser apenas “fornecedor do mundo” para se tornar uma peça central no jogo geopolítico.
Trump não mirou o Brasil por acaso. Ele usou o nosso agro como palco para sinalizar força ao seu eleitorado doméstico, em um gesto que mistura diplomacia agressiva e estratégia eleitoral. Ao escolher taxar produtos como carne bovina, café, suco de laranja e etanol, Trump acertou onde mais dói: na imagem de potência exportadora que o Brasil vem construindo há décadas.
O resultado imediato foi uma onda de incerteza. O dólar disparou, contratos futuros se tornaram um campo minado, e o produtor, que já lida com clima, custo de insumos e volatilidade de preços, agora vê um novo risco se consolidar: o risco político internacional.
E por falar no assunto, o Farmnews apresentou dados que mostram a importância dos EUA para o agro brasileiro. Vale destacar que além de um importante mercado consumidor de produtos do agro brasileiro, especialmente de produtos florestais, café, carne bovina, sucos como destacamos (clique aqui), os EUA igualmente vendem insumos agrícolas para o Brasil, como fertilizantes (clique aqui).
No Brasil, a reação política se transformou em mais um espetáculo de polarização. De um lado, governistas acusaram Bolsonaro e aliados de conspirar com Trump, minando a soberania nacional. Do outro, a oposição responsabilizou Lula por uma diplomacia frágil, supostamente movida mais por ideologia do que por pragmatismo. Enquanto isso, o produtor — quem realmente importa — assiste sem respostas claras.
As entidades do setor, como a CNA e a FPA, foram unânimes ao defender cautela e diálogo. Falaram em diplomacia firme, em evitar retaliações precipitadas e em buscar soluções multilaterais. Mas, convenhamos, o tempo da diplomacia não é o mesmo da lavoura ou do confinamento. O produtor precisa de previsibilidade para decidir se planta mais, se compra mais ração, se antecipa ou não a venda.
Esse episódio também revela um ponto fundamental: o agro brasileiro avançou muito em tecnologia, produtividade e eficiência, mas ainda falta maturidade institucional. Ainda somos frágeis na defesa da nossa imagem global, na participação em fóruns estratégicos e na capacidade de construir pontes diplomáticas sólidas.
O tarifaço de Trump pode não se consolidar integralmente. Ainda há espaço para negociação, pressões internas nos EUA e reavaliações. Mas o dano simbólico já está feito: o Brasil foi colocado como exemplo em uma disputa que não controlamos. E, mais uma vez, quem paga a conta primeiro é o produtor.
A lição que fica é clara: o agro brasileiro precisa ocupar espaços de poder, participar ativamente da diplomacia econômica e pensar como um ator global, não apenas como campeão de produtividade. Não basta sermos bons no campo; precisamos ser fortes nas mesas de negociação, nos corredores de fóruns multilaterais e nas conversas que moldam o comércio mundial.
No final das contas, a história do tarifaço de Trump não é apenas sobre impostos ou mercados. É sobre influência, soberania e capacidade de defender o que produzimos. E, se existe um recado para quem vive do agro, ele é simples: chegou a hora de nos enxergarmos não apenas como produtores, mas como estrategistas do futuro do Brasil.
E mudando de assunto, o preço futuro do boi gordo para outubro caiu para o menor patamar desde fevereiro em julho (10), reflexo da tarifa aplicada pelos EUA aos produtos importados do Brasil. Clique aqui e saiba mais!
O Farmnews agora tem uma Comunidade! Mais recursos e organização para interagir de modo seguro com nossos leitores! Clique aqui e faça parte!




