Desafio das Agtechs: captação de recursos e relação com investidores

A falta de compreensão mútua entre empreendedores do agro e investidores é, sem dúvida, um dos principais desafios das Agtechs para sua consolidação!
Captar recursos no ecossistema de inovação já é um desafio por si só. Mas, quando falamos do setor do agronegócio, esse desafio se torna ainda mais complexo. Isso porque muitas Agtechs enfrentam um duplo descompasso: de um lado, a realidade do campo, com seus ciclos longos, sazonalidades e riscos ambientais; de outro, o mindset dos investidores, que muitas vezes vêm de mercados urbanos e digitais, onde o tempo é mais acelerado e as métricas de sucesso são diferentes.
A falta de compreensão mútua entre empreendedores do agro e investidores é, sem dúvida, um dos principais desafios das Agtechs para sua consolidação!
Expectativas desalinhadas: tempo de retorno e tração
O agronegócio opera em ciclos anuais. Uma tecnologia pode levar mais de uma safra para ser testada, adaptada, validada e, só então, começar a gerar tração. Isso contrasta fortemente com o modelo mental de muitos fundos de investimento, que esperam tração em três ou seis meses e crescimento exponencial imediato.
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Essa diferença de tempo gera uma frustração perigosa: a startup tenta acelerar artificialmente a operação para satisfazer o investidor, desrespeita o tempo do produtor e do campo, e acaba perdendo credibilidade no mercado. O investidor, por sua vez, interpreta a ausência de tração rápida como sinal de fraqueza e começa a pressionar por mudanças que, muitas vezes, desvirtuam a proposta original.
A solução para esse impasse não está em mudar o agro, mas em educar o investidor e apresentar um plano que considere a sazonalidade e os tempos de adoção no campo.
O agro precisa de investidores com paciência estratégica
Um conceito fundamental para Agtechs é o de “capital paciente com visão agro”. São investidores que entendem que o retorno pode levar mais tempo, mas será mais consistente e sustentável. Investidores com esse perfil valorizam:
– Testes de campo bem conduzidos, mesmo que demorados
– Adoção progressiva por meio da confiança do produtor rural
– Sinais qualitativos de validação antes dos indicadores quantitativos
– Estratégias de monetização baseadas no ciclo de comercialização agrícola
– Times com forte presença no campo, mesmo com estrutura enxuta
Startups que desejam se manter fiéis ao seu propósito e modelo de entrega precisam buscar os parceiros certos desde o início, mesmo que isso signifique renunciar a rodadas mais volumosas ou de fundos com prestígio, mas sem aderência ao agro.
A captação começa com a narrativa certa
Um dos pontos mais importantes para atrair o investidor certo é saber contar a história da startup sob a perspectiva do campo. Isso significa construir uma tese de investimento com base na realidade agrícola, evidenciando:
– O problema específico que está sendo resolvido
– A viabilidade de adoção na propriedade rural
– A jornada de coautoria com produtores e técnicos
– A escalabilidade dentro das características regionais e das cadeias produtivas
– A previsão de receita respeitando os ciclos de plantio, colheita e comercialização
Mais do que mostrar um “gráfico hockey stick[1]”, é necessário apresentar credibilidade territorial, capacidade de execução no agro e profundidade no relacionamento com o ecossistema agrícola.
Investidor é parceiro, não atalho
Startups que enxergam o investidor apenas como um “fornecedor de recursos” tendem a construir relações frágeis, voltadas apenas ao curto prazo. No agronegócio, o ideal é que o investidor atue como parceiro estratégico, contribuindo com:
– Rede de contatos relevantes no setor
– Conexões com cooperativas, associações e canais de distribuição
– Experiência em governança e estruturação de negócios sustentáveis
– Apoio na expansão internacional, especialmente em países com perfil agrícola similar ao Brasil
Esse tipo de relacionamento fortalece a startup e ajuda a atravessar os momentos de baixa sem perder o rumo.
Preparação é a chave
Para captar com qualidade, a Agtech precisa estar bem-preparada. Isso inclui:
– Ter domínio dos números do negócio, mas também dos dados do campo
– Conhecer o tamanho real do mercado, com dados setoriais confiáveis
– Demonstrar capacidade de adaptação aos diferentes perfis regionais
– Mostrar resultados práticos com produtores reais
– Ter uma visão clara de onde a empresa estará em 5 a 10 anos, respeitando os tempos do agro
Startups que não se preparam para a conversa com investidores tendem a perder boas oportunidades ou a atrair parceiros incompatíveis com sua jornada.
A captação de recursos no agro não é apenas um jogo de números. É, sobretudo, um exercício de alinhamento entre propósito, tempo e cultura. Investidores que entendem o valor de uma startup com raízes no campo estão mais preparados para colher resultados sustentáveis no futuro.
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