Gestão

Custos na fase de cria: entendendo os gastos na pecuária de corte

Após falarmos do ciclo completo e da engorda, chegou a vez da importância dos fatores de custos na fase de cria, conforme o nível tecnológico dos sistemas produtivos.

A pecuária de cria no setor do gado de corte sempre esteve condicionada às características produtivas da fazenda, mais do que necessariamente a uma escolha estratégica de escala de produção.

Diferentemente do segmento de terminação intensiva, a pecuária de cria permaneceu, por décadas, vinculada a regiões de solos menos férteis e com infraestrutura precária para o escoamento da produção.

Contudo, o cenário atual trouxe mudanças significativas para o setor. A competitividade com outras culturas e modelos de negócios, a crescente pressão ambiental e a maior exigência dos invernistas por animais de melhor qualidade têm provocado uma mudança no comportamento dos criadores.

Ao avaliarmos a composição de custos desse sistema produtivo – conforme ilustrado na Figura 1, observamos que, nos patamares mais tecnificados, os gastos com alimentação representam a maior parcela, especialmente os investimentos em programas nutricionais e custos agrícolas, assim como ocorre nos outros segmentos da pecuária.

Fonte: Adaptado e compilado de BeefReport, ABIEC.

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Figura 1. Distribuição Percentual dos Custos Produtivos

No entanto, é importante destacar a relevância dos centros de custos reprodutivos e sanitários, pois ambos interferem diretamente na lucratividade da fazenda. Erros ou adversidades nessas áreas podem resultar em prejuízos consideráveis, seja pela redução da eficiência reprodutiva, impactando o estoque de animais, seja pelo aumento da mortalidade no rebanho.

Os cenários mais extrativistas apresentam as mesmas características econômicas dos outros setores, e é possível verificar o maior peso da depreciação, um valor contábil e não desembolso, mas que está diretamente relacionado à obsolescência de toda a infraestrutura da fazenda.

Neste sentido, como é amplamente reconhecido, avanços técnicos na pecuária devem ser precedidos por ações gerenciais estruturadas. O primeiro passo envolve a capacitação contínua dos colaboradores, seguido da implementação de um planejamento financeiro rigoroso, com o uso de ferramentas de gestão, como relatórios de Planejado x Realizado, essenciais para a proteção do fluxo de caixa diante dos investimentos e desembolsos necessários.

Além disso, manter-se atualizado sobre as tendências de mercado é fundamental para mitigar os impactos de períodos de baixa e planejar estrategicamente os melhores momentos para a venda dos animais.

Ainda que a organização técnica da produção concentre os lotes de venda em determinados períodos do ano, consolidando a lógica de safra e entressafra, a análise do comportamento recente do mercado torna-se imprescindível para antecipar movimentos futuros.

A Figura 2 abaixo ilustra precisamente essa dinâmica. Observa-se que, a partir de 2021, o volume de fêmeas abatidas inicia um crescimento, rompendo o patamar histórico no final de 2023. Esse cenário resultou na estagnação dos preços do bezerro no Brasil ao longo desses anos, agravando a situação dos criadores, que enfrentaram custos crescentes e, consequentemente, intensificaram o abate de matrizes para compensar a redução da receita.

Figura 2. Evolução dos abates de fêmeas no Brasil Central em relação ao preço do bezerro.

Entretanto, como bem sabemos, esse ciclo de baixa tende a gerar uma escassez de animais no futuro próximo. Embora não seja possível prever com exatidão o valor que o bezerro atingirá, há consenso de que os preços sofrerão uma correção para cima, marcando o início de um novo ciclo de alta.

As Figuras a seguir corroboram essa perspectiva. A relação de troca, embora tenha apresentado melhora de agosto até o final de 2024, passou por um ajuste, reflexo tanto da leve desvalorização do boi gordo após uma forte alta quanto de uma discreta recuperação do preço do bezerro.

Figura 3. Evolução do preço do bezerro em relação ao cálculo da relação de troca com a arroba do boi gordo.

Por fim, o último gráfico evidencia o elevado volume de fêmeas abatidas em estados-chave, como Mato Grosso do Sul, Rondônia e Mato Grosso. Esses dados foram calculados com base nos registros de abate do sistema federal até janeiro de 2025.

Figura 4. Proporção nos abates de fêmeas e machos no sistema federal para os estados que compõem o Brasil Central.

Diante desse panorama, cabe ao criador brasileiro adotar as ferramentas mais modernas de gestão técnica e financeira, administrar com precisão os recursos disponíveis, antecipar os movimentos do mercado e investir continuamente em estratégias nutricionais e genéticas. Essas ações deixaram de ser diferenciais e passaram a ser determinantes para o sucesso e a sustentabilidade do negócio pecuário.

Vale destacar que a gestão de custos fará parte da rotina de análise do Farmews, em uma parceria com Ricardo Brumatti, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Clique aqui e saiba mais!

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Ricardo Brumatti

Prof. Dr. Ricardo C. Brumatti Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - UFMS - Campo Grande, MS. Gestão Econômica de Gado de Corte, Análise de Mercado e Desenvolvimento de Ferramentas de Gestão.
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