Inflação dos alimentos: ESG pode mitigar (ou acentuar) impacto no bolso do consumidor?

Fabrício Peres avalia o impacto e como o ESG pode influenciar na inflação dos alimentos, seja na queda como também na alta dos preços.
Tenho lido muitas análises sobre a inflação nos alimentos em 2024. IPCA, INPC, independente do indicador a conclusão é a mesma, está mais caro alimentar a família brasileira.
Muito se fala do impacto do câmbio, aumento dos custos de insumos agrícolas, políticas de financiamento inadequadas/restritas, entre outros, mas nesse artigo eu gostaria de dar um foco especial na agenda ESG (Environmental, Social, Governance) e como ela pode impactar de maneira favorável ou desfavorável a produção de alimentos.
A Relação entre a Inflação e os Desafios Ambientais
A inflação dos alimentos está profundamente ligada a fatores externos, como mudanças climáticas, escassez hídrica e a qualidade do solo, além dos fatores políticos e econômicos, claramente. Em 2024, o Brasil experimentou eventos climáticos extremos, resultando em secas severas ou chuvas excessivas, o que comprometeu a produção agrícola, com El Niño no início do ano, chuvas fortes no sul do país e La Niña com estiagem prejudicando safras como a de café.
Esses fatores não apenas afetam a oferta de alimentos, mas também pressionam os preços para cima. Com a redução da produção, a demanda continua e a desvalorização cambial favorece as exportações, levando a um aumento nos preços dos alimentos que afeta todos os consumidores.
A Agenda ESG como Fator de Impacto
A agenda ESG (Ambiental, Social e Governança) pode ter um impacto tanto favorável quanto desfavorável na inflação dos alimentos. Embora a adoção de práticas sustentáveis possa ajudar a estabilizar preços e promover uma produção agrícola mais resiliente, também existem desafios significativos que podem acarretar um aumento nos custos.
Um dos principais fatores que podem contribuir para a elevação da inflação é a mudança climática. Eventos climáticos extremos, como secas e enchentes, afetam diretamente a produção agrícola, limitando a oferta de alimentos e, consequentemente, elevando os preços. A escassez de recursos naturais, especialmente água, é outro desafio que se agrava e que os produtores precisam enfrentar. Com a crescente demanda e o uso inadequado, a preservação desses recursos se torna urgente, mas pode exigir investimentos dispendiosos que os produtores em dificuldades financeiras podem não conseguir arcar.
Práticas inadequadas de manejo de solo podem degradar o ambiente produtivo e assim reduzir significativamente a qualidade do solo e sua fertilidade. Degradação do solo é um dos principais desafios atuais da agricultura mundial, a qual tem um fator direto de impacto negativo na produtividade.
Adicionalmente, a baixa capacitação da mão de obra rural pode limitar a implementação de práticas modernas e sustentáveis. Muitos trabalhadores não possuem o conhecimento técnico necessário para adotar métodos que promovam a eficiência e a produtividade. Isso não apenas afeta a qualidade da produção, mas também pode resultar em perdas que elevam os custos gerais.
Esses fatores, entre outros associados à agenda ESG, oferecem um quadro desafiador que pode impactar negativamente a inflação dos alimentos no Brasil.
Agricultura Regenerativa como Solução
A agricultura regenerativa, por outro lado, oferece uma abordagem eficaz para combater a inflação dos alimentos. Essas práticas visam não apenas aumentar a produtividade, mas também restaurar a saúde do solo e promover a biodiversidade, fatores essenciais para garantir a produção alimentar estável.
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Benefícios da Agricultura Regenerativa
- Recuperação e Preservação do Solo: Técnicas como rotação de culturas e uso de coberturas melhoram a fertilidade do solo, aumentando a produtividade e reduzindo a dependência de insumos químicos.
- Adaptação ao Clima: A escolha de variedades adaptadas a condições climáticas específicas e a implementação de práticas de manejo adequado ajudam a mitigar os efeitos das secas e das chuvas excessivas.
- Aumento da Resiliência: Práticas de manejo integrado de pragas e monitoramento contínuo das lavouras podem prevenir perdas significativas de produção, garantindo que os agricultores possam atender à demanda.
- Proteção de Recursos Hídricos: A preservação das Áreas de Proteção Permanente (APPs) e o manejo eficiente da água são cruciais em tempos de escassez hídrica. Isso não apenas protege os ecossistemas, mas também assegura a disponibilidade de água para produção.
Tendências que Facilitam a Adoção das Práticas
A crescente adoção de tecnologias também pode facilitar a implementação dessas práticas.
- Tecnologia de Agricultura de Precisão: O uso de sensores e drones para monitorar lavouras pode proporcionar informações valiosas sobre a saúde das plantas e das condições do solo, ajudando os produtores a tomar decisões informadas.
- Inteligência Artificial: Sistemas baseados em inteligência artificial podem otimizar o uso de insumos, prever condições climáticas e melhorar a eficiência da produção, reduzindo custos.
- Capacitação e Educação: Iniciativas que oferecem formação sobre práticas sustentáveis e tecnologias modernas são essenciais para capacitar os produtores a adotarem métodos que melhorem sua produtividade e resistência às incertezas do clima.
Conclusão
A inflação dos alimentos no Brasil em 2024 é um desafio significativo que exige atenção imediata. A adoção da agenda ESG e práticas de agricultura regenerativa pode não apenas mitigar os impactos da inflação, mas também promover um futuro mais sustentável e resiliente para a produção agrícola. Ao investir em tecnologias e práticas que respeitam o meio ambiente, os produtores podem garantir uma produção mais estável, beneficiando a todos: do agricultor ao consumidor.
Eu sou Fabrício Peres, executivo com mais de 20 anos de experiencia, desses anos a metade liderando equipes globais em Agricultura Sustentável pela Syngenta na Suíça. Atualmente apoio empresas do agronegócio brasileiro que querem se internacionalizar, oferecendo consultoria especializada em sustentabilidade e mercado europeu.
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