Análise da produção de leite no Rio Grande do Sul e da região de Pelotas
O LAE/USP analisa as tendências e os desafios da produção de leite no Rio Grande do Sul e da região de Pelotas.
A região de Pelotas, no Sul do Estado do Rio Grande do Sul, é tradicional produtora pecuária. Ainda que a produção de carne bovina tenha sido o motor econômico da região desde o início da colonização, com as famosas charqueadas, a região também apresenta importância na produção de leite.
Contudo, nas duas últimas décadas, apesar dos esforços no aumento da produção e produtividade, a região vem perdendo espaço no mercado leiteiro, tanto do RS quanto do Brasil. E tal fato é sinal de alerta quando o assunto é desenvolvimento regional.
No ano de 2017 o Brasil produziu 33,49 bilhões de litros de leite de vaca, segundo o IBGE. Vale destacar que os dados de 2017 são os mais atuais disponibilizados por aquele instituto. E em 2017 o Rio Grande do Sul produziu 4,55 bilhões de litros, tendo ultrapassado o Estado do Paraná para ocupar a segunda posição entre os maiores produtores, ficando atrás apenas de Minas Gerais, que produziu 8,91 bilhões de litros.
A melhoria no desempenho da pecuária leiteira gaúcha é nítida nos últimos 20 anos: no início dos anos 90 o Estado respondia por 10% da produção nacional, mantendo-se na faixa entre 10% e 11% até o ano de 2007, quando inicia processo de crescimento para atingir praticamente 14% da produção brasileira no ano de 2017 (Figura 1).
Figura 1. Evolução da participação da produção de leite do Estado do Rio Grande do Sul em relação à produção brasileira; participação da produção da microrregião de Pelotas em relação à produção do RS; e participação da produção da microrregião de Pelotas em relação à produção nacional (1990 a 2017)
Observa-se também, na Figura 1, que o desempenho relativo da produção de leite da microrregião de Pelotas não apresentou a mesma tendência: no início dos anos 90, a produção da região respondia por 4,7% da produção do RS e por 0,47% da produção brasileira. Ainda que com alguma instabilidade, o comportamento que se observou foi de redução na participação estadual e nacional da região. No ano de 2017, o volume de leite da região disse respeito a 2,6% da produção do RS e a apenas 0,35% da produção nacional.
Tradicionalmente a expressão “Bacia Leiteira de Pelotas” abrange um território maior que o da classificação de “microrregião de Pelotas” pelo IBGE. Para este texto, porém, o foco será dado à essa segunda classificação.
A microrregião de Pelotas é composta por 10 municípios: Arroio do Padre, Canguçu, Capão do Leão, Cerrito, Cristal, Morro Redondo, Pedro Osório, Pelotas, São Lourenço do Sul e Turuçu. A produção da microrregião em 2017 foi de quase 119 milhões de litros de leite (Tabela 1).
Tabela 1. Volume de produção de leite de vaca nos municípios da microrregião de Pelotas no ano de 2017
Analisando-se o desempenho da produção e produtividade de leite na microrregião de Pelotas (Figura 2), observa-se que o número de vacas ordenhadas oscilou sem uma tendência clara, entre pouco menos de 40 e pouco mais de 60 mil animais, durante o período de 1990 a 2017. Mais recentemente, entre os anos 2012 e 2017, o número de animais ordenhados manteve-se bastante próximo das 40 mil cabeças.
Figura 2. Evolução do número de vacas ordenhadas, da produção e produtividade de leite nos municípios da microrregião de Pelotas (1990 a 2017)
Apesar de o número de animais ter oscilado em uma faixa não muito ampla, a produção de leite em si aumentou de forma significativa e, por conseguinte, a produtividade. No início dos anos 90, a produtividade média de litros de leite por vaca por ano oscilou entre 1.200 e 1.300. Posteriormente, ficou vários anos ao redor de 1.800 litros/vaca/ano, elevando-se significativamente a partir do ano de 2012, para atingir quase 3.000 litros no ano de 2017, e algo próximo aos 120 milhões de litros produzidos.
A melhoria clara na produtividade não foi suficiente para evitar a perda de participação relativa da região. Dessa forma, deduz-se que a pecuária leiteira regional pode estar perdendo competitividade no mercado. Deve-se considerar que as mudanças na logística de coleta a granel do leite, em meados dos anos 90, bem como a expansão da tecnologia UHT de processamento, aumentaram a pressão competitiva sobre os produtores locais, inclusive permitindo que produto processado viesse de regiões longínquas como Minas Gerais e Goiás, dois fortes “concorrentes” da produção gaúcha.
Acredita-se que há várias alternativas para se melhorar a competitividade da produção de leite local, sejam elas zootécnicas, sejam gerenciais.
A adequada gestão econômica e financeira da atividade pode contribuir para o resgate da competitividade perdida. Outra possibilidade é a integração com outras atividades na propriedade, como culturas anuais, pastagens manejadas, outras atividades pecuárias, a silvicultura (produção de madeira) e a fruticultura.
A agregação de valor ao produto na propriedade também deve ser pensada, como a produção de queijos e outros derivados. A região tem plenas condições edafoclimáticas, logísticas e humanas para recuperar sua participação e mesmo se tornar uma exportadora para outras regiões ou mesmo outros países. Para isso, esforços de todos os envolvidos nesse sistema agroindustrial são necessários. Esta é a mensagem que gostaríamos de deixar aqui.
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Vale lembrar que o LAE/USP divulga mensalmente dados de custo de produção da engorda de bovinos confinados. Clique aqui e confira os números de abril de 2019!
Augusto Gameiro é Engenheiro Agrônomo, Bacharel em Ciências Contábeis, Mestre e Doutor em Economia Aplicada. É professor do Departamento de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. Coordenador do Laboratório de Análises Socioeconômicas e Ciência Animal (LAE/FMVZ/USP). E-mail: gameiro@usp.br.
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