Uso de promotores de crescimento na produção animal
Pesquisadoras do LAE/USP, Laya Kannan e Eduarda Buck discutem o uso de promotores de crescimento na produção animal.
Em 1948 ocorreu a descoberta dos benefícios dos antibióticos e prontamente, estes compostos foram adotados como parte integrante dos programas de alimentação na produção animal.
Em 1963, mais de 1 milhão de kg de antibióticos já eram utilizados anualmente em alimentos para animais (GRÁFICO 1). Em 2006, esse número já alcançava patamares de mais de 23 milhões de kg de antibióticos produzidos nos EUA, e destes, 8 milhões de kg eram utilizados pela indústria animal.
Gráfico 1 – Vendas de antibióticos para fins medicinais e não medicinais nos EUA de 1949 a 1988. (Cromwell, 2006)
O Brasil está entre os cinco maiores consumidores de antibióticos do mundo (GRÁFICO 2).
Gráfico 2 – Consumo de antibióticos em toneladas (Van Boeckel et al., 2015)
Mas como estes antimicrobianos são utilizados pela produção animal?
Na produção animal, a utilização dos antimicrobianos se dá em forma de profilaxia, ou seja, prevenção de doenças; como tratamento de doenças que acometem os plantéis; e como promotores de crescimento.
Neste sentido, o sucesso da produção de suínos foi amplamente melhorado com a administração de concentrações não terapêuticas de agentes antimicrobianos na dieta animal, popularmente conhecidos como antibióticos promotores de crescimento (APC). Porém, de acordo com especialistas, independente dos benefícios, o uso indiscriminado de muitos ATM e o rápido surgimento e difusão de patógenos apresentando resistências simples ou múltiplas a essas drogas, tanto em humanos quanto em animais, aponta para a necessidade do uso prudente pela produção animal.
Dados mostram que no Brasil, 90,5% das doenças decorrentes de ingestão de alimentos contaminados ocorrem devido a bactérias, dentre elas podemos citar Salmonella sp. (7,5%), Escherichia coli (7,2%) e Staphylococcus aureus (5,8%) como as mais encontradas. Estima-se que em 2050 a resistência microbiana será a principal causa de mortes no mundo.
Com isso, baseado na Organização Mundial da Saúde (OMS) que desde 2006 recomenda a proibição do uso de antibióticos como promotores de crescimento, em dezembro de 2018, a Secretaria de Defesa Agropecuária (DAS), ligada ao MAPA, publicou a intenção de proibir o uso de tilosina, lincomicina, virgimincina, bacitracina e tiamulina com finalidade de aditivos melhoradores de desempenho, segundo consta a Portaria nº 171.
A fim de atuar de forma competitiva no cenário agropecuário internacional, que já tem como realidade a proibição do uso de antibióticos como promotores de crescimento na produção de suínos, tornou-se necessário ao suinocultor brasileiro adotar novas medidas para substituir os antibióticos promotores de crescimento. Nos Estados Unidos existe um programa chamado “NEVER EVER 3”, onde os suínos são criados sem a utilização de antibióticos em toda sua vida. A empresa canadense Hylife Foods já possui 8% de sua produção total suína totalmente livre de antibióticos, isso devido à cobrança de forma massal dos consumidores por uma produção suína sem antimicrobianos.
Com isso, em se tratando da substituição ao uso de antibióticos em dietas de suínos, alguns produtos alternativos vêm ganhando força no segmento, como prebióticos, probióticos, simbióticos, acidificantes, herbais, condimentos e óleos essenciais. Dentre eles, destaca-se a utilização dos probióticos como potencial substituto.
Sob definição, probióticos são micro-organismos vivos que, administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde de quem os ingere. Seu emprego em substituição aos APC faz-se uma relevante estratégia nutricional, especialmente em fases críticas da produção de suínos. Tomamos como exemplo para tal o pós-desmame de leitões.
Sabe-se que, em resposta as modificações no trato digestório e alterações em sua microbiota intestinal decorrentes do stress causado pelo desmame, a capacidade de digestão e absorção de nutrientes pelos leitões são diminuídas. Consequentemente, há queda no desempenho dos animais, além de estabelecer condições favoráveis a quadros de enfermidades e de um dos principais problemas enfrentados na fase pós-desmame, a diarreia em leitões.
Dessa forma, o objetivo do uso dos probióticos é equilibrar a microbiota intestinal dos leitões a fim de impedir que microrganismos potencialmente patogênicos causem transtornos sobre o organismo do leitão e com isso garantir a manutenção da saúde dos animais e consequentemente o desempenho.
Vale ressaltar que, para que os substitutos apresentem um bom resultado, quando comparados aos APC, é extremamente importante que sejam adotadas boas práticas de produção na granja. O produtor e os técnicos do setor devem se atentar aos manejos básicos do cotidiano, aos cuidados sanitários, à biosseguridade e prezar por uma produção sustentável, que contemple o bem-estar animal, os fatores humanos e a viabilidade econômica do sistema.
Neste sentido, haverá sim uma certa dificuldade em substituir os APC com completa eficiência no desempenho animal, no entanto, para atender a um mercado internacional extremamente exigente, é importante buscarmos tecnologias nutricionais efetivas a fim de possibilitar alternativas, garantindo o desempenho, sanidade e o bem-estar dos animais.
Pesquisadores do LAE/USP, Danny Moreno e Yuli Bermudez avaliam o sistema de pastejo e a relação planta-animal. Clique aqui e saiba mais!
Sobre as autoras:
Laya Kannan S. Alves é bacharel em Zootecnia pela Universidade Federal de Uberlândia, pós-graduanda a nível de Mestrado no Departamento de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Membro dos Laboratórios de Pesquisa em Suínos e Análises Socioeconômicas e Ciência Animal, onde desenvolve projeto sobre custos de produção na suinocultura.
Eduarda Buck B. Guimarães é bacharel em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo, pós-graduanda a nível de Mestrado no Departamento de Nutrição e Produção Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo. Membro do Laboratórios de Pesquisa em Suínos, onde desenvolve projeto sobre utilização de probióticos na suinocultura.
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