Inflação dos alimentos e o agronegócio: esclarecimentos ao consumidor!

O ano de 2025 começa com o tema de inflação dos alimentos em foco, mas vamos entender melhor o assunto, destacando o exemplo da carne bovina.
Para aqueles que acompanham o Farmnews há mais tempo, o assunto é bastante discutido por aqui e já bem conhecido pelo produtor. Mas a ideia é mudar o foco e buscar conscientizar o consumidor, em maioria o pessoal da cidade, que o agro não é o culpado dessa alta, e que não existe mágica para reverter a situação. O efeito é cíclico, de longo prazo e, não acontece apenas no Brasil.
Nos Estados Unidos por exemplo, o preço do boi gordo alcançou patamares recordes e, claro, por consequência o valor da carne bovina para o consumidor final por lá também. E por que isso aconteceu? O rebanho de bovinos naquele país caiu sensivelmente nos últimos anos. No Brasil, o rebanho também caiu nos últimos anos. A queda no rebanho reflete no aumento da oferta de carne bovina momentânea, mas compromete a produção futura.
Aliás, para saber mais sobre a evolução histórica do rebanho de bovinos dos EUA ao longo de mais de 20 anos, entre 2001 e a expectativa para 2025, clique aqui!
Mas porque o rebanho diminuiu? Porque a atratividade econômica da pecuária caiu, especialmente da cria, a etapa que produz os animais jovens. Quando o preço dos animais jovens cai muito e as contas não fecham, o produtor muitas vezes tem que liquidar o rebanho, ou seja, vender vacas para pagar as contas (primeira Figura). Pois é o rebanho caiu porque a atividade não remunerou adequadamente o pecuarista e isso a aconteceu ao longo dos últimos 2 anos, inclusive com a venda de vacas alcançando patamares recorde histórico em 2024. E quando o rebanho cai, a oferta futura diminui e é justamente a fase que estamos entrando agora em 2025, de reversão de ciclo, para alta de preços do boi gordo.
A Figura apresenta os dados oficiais do abate de fêmeas (vacas e novilhas) no Brasil no 3º trimestre entre os anos de 2010 e 2024, em milhões de cabeças, segundo SIDRA-IBGE.

O pecuarista enfrentou um período de queda de preços e margens ruins para o seu negócio e isso não se muda do dia para a noite, com estímulo à produção para reversão dessa tendência, no curto prazo. O ciclo do boi gordo é longo e mesmo que investimentos sejam feitos, com algum estímulo à produção, isso será refletido no futuro para o consumidor, nos próximos anos.
Em outras palavras, é preciso conhecer o ciclo de preços da pecuária para entender o comportamento de preços da carne bovina e o reflexo na inflação dos alimentos.
Vale destacar que esse movimento cíclico de preços determinado pela maior ou menor oferta de animais devido a diminuição ou aumento do rebanho é cíclico e acontece, em geral, de 5 em 5 anos, como podemos visualizar na segunda Figura abaixo.
O pico do ciclo de alta de preços anterior aconteceu em 2021 e antes disso, em 2015. Nos anos entre 2025 e 2026 é esperado novo pico de preços. Mas como temos destacado, o mercado é volátil e dentro do ano ele também oscila e as vezes nada está relacionado com o ciclo de longo prazo, mas em razão do clima, economia, política, câmbio, questões sanitárias entre outros.
A Figura mostra os dados médios anuais do preço do boi gordo corrigido pela inflação (IGP-M) entre os anos de 2010 e 2024, segundo dados do Cepea, em Reais por arroba.

Veja, em 2021 o abate de fêmeas (primeira Figura) foi o menor para o 3º trimestre e o preço do boi gordo naquele ano foi recorde. Existe uma relação direta entre o ritmo de abate de fêmea e o preço do boi gordo quando avaliamos os fundamentos de longo prazo. Certamente existem inúmeras outras variáveis que afetam o preço do boi gordo, como mencionamos acima, mas o abate de fêmeas é uma das mais relevantes.
Claro, não queremos tornar o assunto ainda mais técnico ou até mesmo chato, mas é importante destacar que existem fatores que boa parcela da população desconhece e pode culpar o produtor pela inflação dos alimentos. Na verdade, o produtor enfrentou anos consecutivos de queda e agora tem a oportunidade de vender sua produção a valores mais altos e reinvestir no negócio. Esse reinvestimento e a consequente retenção de vacas deve novamente aumentar a rebanho e, por consequência, a produção de carne bovina nos anos à frente, pressionando novamente, para baixo, os preços do mercado pecuário, como visto nos anos de 2022 e 2023. Por isso chamamos de ciclo de longo prazo.
E mais uma coisa importante, essa recuperação de preço do boi gordo não necessariamente implica em melhores margens de lucro para o produtor. O consumidor pode pensar que agora o lucro do pecuarista mais que compensa essas perdas passadas. Não é bem assim, pois os custos acompanham os preços e a eficiência, as perdas, as adversidades de uma produção a céu aberto são complexas e de alto risco.
Mas é preciso exemplificar também os movimentos sazonais, de safra e entressafra, no mercado do boi gordo. A alta que aconteceu em 2024, nos últimos 4 meses do ano (terceira Figura), não está relacionada com o ciclo pecuário de longo prazo, mas principalmente pelo efeito de uma seca severa que restringiu a oferta diante de um cenário de demanda aquecida, tanto interna como externa.
A Figura ilustra a evolução diária do preço nominal do boi gordo desde 2021, segundo dados do Cepea, em Reais por arroba.

O que podemos observar também é que, com a alta no preço da carne bovina, o preço das carnes concorrentes igualmente aumenta. O frango segue nos patamares recordes e o suíno além de renovar a máxima no final de 2024, se mantém cotado acima dos valores praticados no mesmo período do ano anterior.
O Farmnews inclusive apresentou os dados médios mensais do preço do suíno vivo e do frango no atacado ao longo dos últimos anos. Clique aqui e confira os dados!
E o que podemos falar da exportação de carne bovina nesse contexto de inflação dos alimentos? O Brasil é o maior exportador mundial e não é à toa que mencionamos o agro como a força que move o Brasil, com saldo recorde da balança comercial em 2024.
Você sabia que o saldo da balança comercial do agro do Brasil praticamente dobrou em 10 anos, já que em 2015, até novembro, alcançou US$69,13 bilhões e no mesmo período de 2024 foi de US$134,85 bilhões. Clique aqui e confira os dados!
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