Sustentabilidade

Gases de efeito estufa: novos requerimentos para a agricultura brasileira!

Compromissos de redução das emissões de gases de efeito estufa, especialmente o chamado escopo 3, que inclui as atividades agrícolas, tem desafiado empresas de alimentos em melhorar suas atividades no campo.

No início de março, conversando com um executivo sênior de uma grande empresa de alimentos global, ele me confessou os grandes desafios que sua empresa vem enfrentando em cumprir com as metas de redução das emissões do chamado escopo 3. Em particular, sua preocupação era em torno das atividades agrícolas de seus fornecedores, em grande parte, produtores brasileiros.

Apenas para contextualizar, as emissões de uma empresa podem ser classificadas em 3 escopos:

Escopo 1: Emissões Diretas – são as emissões de gases de efeito estufa (GEE) que ocorrem a partir de fontes que são de propriedade ou controladas pela empresa. No contexto de uma empresa de alimentos, isso pode incluir:

  • Emissões de combustão de caldeiras, fornos, veículos de transporte da empresa.
  • Emissões de processos industriais envolvidos na produção de alimentos, como a fermentação ou a pasteurização.

Escopo 2: Emissões Indiretas de Energia – abrange as emissões indiretas associadas à geração de eletricidade, calor ou vapor que a empresa compra e consome. Para uma empresa de alimentos, isso pode incluir:

  • Emissões associadas à eletricidade utilizada nas instalações, como fábricas, armazéns e escritórios.
  • Emissões relacionadas ao aquecimento e refrigeração necessários para a produção e conservação de alimentos.

Escopo 3: Outras Emissões Indiretas – ocorrem na cadeia de valor da empresa, mas não estão diretamente sob seu controle. Para uma empresa de alimentos, isso pode incluir:

  • Emissões associadas à produção de ingredientes e matérias-primas, como agricultura e pecuária.
  • Emissões do transporte e distribuição dos produtos, incluindo fornecedores e distribuidores.
  • Emissões durante o uso do produto final pelo consumidor e seu descarte.

Um desafio universal e complexo

As dificuldades que meu colega me descreveu, não são exclusivas a sua empresa. Ao conversar com outras empresas de alimentos me deparo com o mesmo desafio que estão enfrentando.

Quando se trata de escopo 3, particularmente com as atividades agrícolas, são diversas dificuldades que essas empresas vem enfrentando, entre eles:

1. Falta de Dados Acurados e Confiáveis

  • Coletar dados precisos sobre práticas agrícolas e emissões é difícil, especialmente em cadeias de suprimento complexas. Muitos agricultores podem não monitorar ou relatar suas emissões adequadamente.

2. Variabilidade nas Práticas Agrícolas

  • As práticas agrícolas variam amplamente com base em fatores como localização, tipo de cultura, tecnologia utilizada e capacitação dos agricultores. Isso torna desafiador padronizar as medições de emissões.

3. Fragmentação da Cadeia de Suprimento

  • Em muitas cadeias de suprimento, os agricultores são pequenos proprietários ou cooperativas, o que dificulta a implementação de soluções de mitigação de emissões de efeito estufa de maneira uniforme e eficaz.

4. Integração de Sustentabilidade nas Práticas Agrícolas

  • A adoção de práticas agrícolas sustentáveis pode demandar investimentos significativos e mudanças no modo de produzir, algo que nem todos os agricultores estão dispostos ou podem fazer.

5. Desafios Financeiros e Econômicos

  • Os custos associados a tecnologias mais limpas ou certificações de sustentabilidade podem ser uma barreira para alguns agricultores, especialmente em mercados altamente competitivos.

6. Conformidade com Normas e Regulamentações

  • As empresas podem enfrentar desafios ao tentar alinhar suas operações agrícolas com regulamentações ambientais flutuantes e exigências de relatórios de emissões.

7. Engajamento de Stakeholders

  • A colaboração eficaz com agricultores e outros stakeholders é essencial, mas pode ser difícil devido a diferentes interesses e prioridades.

8. Mudanças Climáticas e Resiliência

  • As mudanças climáticas podem impactar a produtividade agrícola, tornando mais difícil prever as emissões ligadas à produção e a adaptação das práticas.

Oportunidade para os agricultores brasileiros

Diante dessas dificuldades enfrentadas pelas empresas globais de alimentos, abrem-se oportunidades para aqueles produtores brasileiros que estiverem melhores preparados e adaptados a uma agricultura profissional e sustentável.

Abaixo listo algumas das oportunidades apresentadas aos produtores brasileiros para que se diferenciem junto as empresas de alimentos, nesse contexto:

1. Adaptação de Práticas Agrícolas Sustentáveis

  • Implementar técnicas de agricultura de precisão, que utilizam tecnologia para otimizar o uso de recursos, reduzir insumos e minimizar as emissões.

2. Certificações de Sustentabilidade

  • Buscar certificações de práticas agroambientais, como o Sistema Brasileira de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBOV) e Fair Trade, pode aumentar a competitividade e abrir novos mercados.

3. Apoio Tecnológico e Inovação

  • Aproveitar tecnologias emergentes, como sistemas de monitoramento via drones, sensores e inteligência artificial, para melhorar a eficiência agrícola e rastrear emissões.

4. Práticas de Agroecologia

  • Adotar práticas de agroecologia, que podem reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover a biodiversidade, como a rotação de culturas e o uso de adubação orgânica.

5. Integração de Sistemas

  • Implementar sistemas agroflorestais ou de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), que podem aumentar a produtividade e melhorar a saúde do solo, além de contribuir para a captura de carbono.

6. Acesso a Financiamento Verde

  • Explorar linhas de crédito e financiamentos voltados para práticas sustentáveis, como o Programa de Sustentação do Investimento (PSI) e outros incentivos governamentais e privados.

7. Mercados de Carbono

  • Participar de esquemas de compensação de carbono que remuneram práticas que reduzem as emissões, permitindo monetizar ações que promovem a sustentabilidade.

8. Educação e Capacitação

  • Investir em capacitação e educação sobre práticas agrícolas sustentáveis, que podem melhorar a resiliência e a produtividade a longo prazo.

9. Colaboração e Parcerias

  • Formar parcerias com empresas de alimentos e organizações não governamentais para compartilhar conhecimento e recursos na busca por práticas mais sustentáveis.

10. Consumidor Consciente

  • Aproveitar a tendência de consumidores que buscam produtos sustentáveis, destacando práticas agrícolas responsáveis nas estratégias de marketing e comunicação.

Concluindo

Os produtores brasileiros estão em uma posição privilegiada para se destacarem e maximizarem as oportunidades de diferenciação em um contexto desafiador para as empresas de alimentos.

Os desafios impostos pelos requisitos de redução das emissões de escopo 3 não apenas evidenciam a complexidade da relação entre empresas de alimentos e agricultores, mas também abrem um leque de oportunidades para os produtores brasileiros.

Com uma abordagem proativa e a adoção de práticas agrícolas sustentáveis, os agricultores podem se tornar parceiros-chave para a redução dos gases de efeito estufa e, ao mesmo tempo, aumentar sua competitividade no mercado.

Através da utilização de tecnologia, busca por certificações, implementação de práticas de sustentáveis e acesso a financiamento verde, os produtores têm a chance de não apenas atender às demandas das empresas de alimentos, mas também conquistar o consumidor consciente que valoriza a sustentabilidade. Portanto, ao investir em inovação e colaboração, os agricultores brasileiros podem não apenas contribuir para um futuro mais sustentável, mas também assegurar sua relevância e sucesso em um cenário global em constante evolução.

Eu sou Fabrício Peres, executivo com mais de 20 anos de experiencia, liderando equipes globais em Agricultura Sustentável pela Syngenta no Brasil e na Suíça. Atualmente apoio empresas do agronegócio brasileiro que querem se internacionalizar, oferecendo consultoria especializada em sustentabilidade e estratégica sobre o mercado europeu.

Fabrício Peres também destacou sobre o impacto e como o ESG pode influenciar na inflação dos alimentos, seja na queda como também na alta dos preços. Clique aqui e confira!

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